Ela acendeu
o cigarro.
Os olhos
arregalados deixavam clara a conclusão:
perdera o amor da sua vida.
Não esse
último. Esse a perdera e era o amor da vida dele. Ela. Ele não.
“Otário”,
gesticulou com força, esparramando uma lufada de fumaça por tudo quanto era
lugar ainda vago no ambiente.
Ela usava
esses termos, “panaca”, “bananão”. Achava que definia bem a sensação da inconsistência
do caráter.
Mas o
outro.
Não, não!
Ela perdera
o amor da sua vida e tinha entendido numa mensagem não enviada de quase oito anos
antes. Ele sentira ciúmes. Ela percebera?
Na época?
Ah, que
tolice, ela não percebia nada. Estava nublada, morrida, um negócio feio que só
vendo. Só entendeu todas as atitudes depois.
E o pior,
era um ciúme sem tanto fundamento. Sem tanto porque. Cansou logo e foi se
divertindo com quem pode.
Mas o
buraco estava ali.
Grande,
vermelho, com bordas putrefatas e latejava.
Teria sido
em vão?
Nada era em
vão, mas não dava pra voltar atrás.
Ficou ali,
assim. Olhos arregalados, a fumaça do cigarro subindo, fazendo voltas.
E ela?
“Otária”.
30/11/2016
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