Em algum lugar em mim há algo que
Se parece ainda com um coração
Aberto, escancarado, um riso de poucos
Dentes e gengivas brancas, pálidas
Como o fundo dos meus olhos negros
Contrastantes com a ira mágica da alegria
Que eu já senti
Com o sabor já provado e com a água retida entre os dedos
Nesse lugar de vários passados ainda há um sentimento
Um sentido
Uma flor pequena e dourada
Há ouro em pó e pedras do tamanho de maçãs
As suas, do seu rosto, do meu
De nós dois colados redescobrindo que ainda há algo
Que bate no peito.
O sangue na contramão
O sangue e o chão sumindo rápido na contradança.
Você me concede?
Eu aprendi tão pouco nesse tempo todo,
Eu ainda procuro com quem dividir e partilhar
Esse pão amassado por minhas mãos
Vazias e sozinhas ao vento
Lento escoar de mágoas
Lento aprendizado de sonhos
Porque fé também se aprende.
Meus dois verões inteiros que sobrarão quando tudo isso
passar
Eu desejaria passar nessa sombra estranha que ainda
Desconheço
A sombra desse nosso pesar tão semelhante
E irrestrito
Tudo se torna tão íntimo que apenas digo:
Antes do trem passar assenta-se um dormente.
Mordi o lábio.
Não senti nada.
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