Ela não sabia como dizer.
Não era como pedir demissão, era como voltar atrás de
promessas que eram vasos de barro, mas continham flores. A semente ele jogara,
ela cuidara mudando o vaso de lugar, procurando luz, ele podava as folhas e
cuidava das pragas. Mas ela não queria mais jardim, não queria praia, não
queria vento algum. Estava maquinando uma forma de se trancar numa salinha de
concreto armado, munida de termais, de café, de rascunhos. Precisava planejar.
E não conseguia fazer isso em voz alta. Aquela vida toda era
pra ela um grito na janela, morar numa casinha transparente com todo mundo
vendo... Agora, essa menina ansiava por segredos, por livros secretos e pelo
murmurar sob lençóis “quieto, tem alguém vindo aí”.
Não sabia como dizer. Tentou não olhar nos olhos, mandar um
cartão, mas se sentiu covarde. Retirar os tijolos daquela construção seria
dolorido, pra ela, pra ele, pra todo o telhado quase pronto. Ele, o telhado,
viria ao chão.
13/01/2011
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