quinta-feira, 14 de outubro de 2021


Queria hoje queimar os meus livros.
O muro da minha cidade sitiada.
E as palavras, como súditos, pedindo clemência.
A nau principal da minha esquadra, perdendo-se no horizonte.
Que imagem poética, amores como navios.
Mas qual general, tendo perdido sua principal pedra, não a substituiria o mais rapidamente, se pudesse?
Essas palavras são minhas.
Mas não cabem também em outras bocas?
Quem de vós, ó genitoras, lançaria sobre o filho a responsabilidade paterna?
Como se culpasse o abortado pelo abordo,
o fruto pela semente numa responsabilidade invertida, de trás pra frente.
Pense num reino à beira mar.
Aceite o mar como irmão e inimigo,
provedor e porta para todos os males.
Pense  em escapar.
É necessário que se visualize bem este lugar.
É o meu ponto de partida.
Porque toda família é um reino.
O homem ou o menino?
Escolhi o varão!
Porque a guerra não era só do lado de fora.
E se na Dinamarca neva...
Pás e pás de neve retiradas do meu leiro para sepultarem o finado. Preparei minha cama de gelo.
Compreendo se não entendem...
Nessa pele só cabe um.

03/08/2016

Nenhum comentário:

Postar um comentário